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Policia

PRF diz que atirou em empresário e não no veículo ao sentir que seria atropelado: Bala não para carro

CASO MOON | 30/05/2019 13h 29min

Agente da PRF respondeu questionamentos durante julgamento nesta quinta-feira (30). — Foto: Jaqueline Naujorks/TV Morena

Após o depoimento das testemunhas de defesa, o policial rodoviário federal Ricardo Su Moon, acusado de matar um empresário em uma briga de trânsito, falou ao júri durante 40 minutos nesta quinta-feira (30), em Campo Grande. A juíza solicitou que descrevesse os fatos de acordo com a versão dele. Moon afirmou que foi “fechado” no trânsito e imaginou, a princípio, tratar-se de um atentado. Ao descer do veículo, com sua lanterna, aproximou-se da caminhonete onde estavam Adriano, Aguinaldo no banco da frente e Vinicius no banco de trás.

“Percebi que os 3 estavam muito agitados, olhos vermelhos, vi que não se tratava de um atentado mas que estava lidando com 3 pessoas alcoolizadas”. Horas antes, as testemunhas disseram que Moon não apresentou uma identificação de policial. A juíza então questionou sobre a identificação do PRF, que respondeu:

“Minha identificação policial naquela época era meu termo de posse numa folha de papel dobrado na minha carteira. Para mostrar eu deveria usar as 2 mãos, em uma situação que não me dava segurança, mas disse que ia mostrar depois, não me recusei a mostrar”.

Pelo relato de Moon, ao perceber que os ocupantes da caminhonete estavam embriagados, ele ligou para a Polícia Militar a fim de impedir Adriano de seguir dirigindo:

“Peguei meu celular e liguei para a PM, me identifiquei, e pedi uma viatura. Enquanto eu pedia reforços avisei que estava em desvantagem com pessoas hostis. Enquanto eu estava no telefone o Aguinaldo e o Vinicius saíram do carro e vieram em minha direção”, disse.

Moon relatou que foi neste momento que sacou a arma: “Nessa situação eu já temia pela minha segurança e saquei a arma dizendo que mantivessem distância. Depois eles voltaram para o carro”.

Segundo o réu, Adriano disse que queria ir embora, e ele teria impedido, dizendo que estavam alterados:

“Eu disse, ‘se você fugir de cena a gente encontra você pela placa’ e eu já estava com o celular na mão e fui para a frente do veículo para fotografar a placa. Enquanto eu estava na frente do veículo, ele acelerou o carro, pegou nos meus 2 joelhos, me debrucei em cima do capô, cai para trás e ele acelerou, eu vi que ia morrer atropelado lá. Em reação instintiva, estiquei a mão e atirei, e aí o carro passou, eu vi ele passando e batendo no poste. Aí eu liguei para o 191 e pedi uma ambulância e guardei meu celular e minha arma para fazer os procedimentos no local, socorrer e conter se fosse necessário."

"Quando cheguei no carro o Aguinaldo estava no chão me chamando de assassino e o Vinicius estava pulando a janela. Vi que ele tinha sangue na perna, ele já saiu gritando, me xingando. Aí eles se abraçaram. Foi quando eu vi que tinha uma viatura vindo, fiz sinal, e quando veio a PM me apresentei e disse o que aconteceu. Depois da explicação eles recolheram minha arma e me recolheram à viatura e eu fiquei sob custódia”, relatou o réu.

Na sequência, a juíza questionou Moon sobre o motivo de ter atirado em Adriano e não no carro, se tinha a intenção de conter o condutor e impedir que avançasse com o carro sobre ele.

“Vou parafrasear aqui uma frase que conhecemos na polícia: 'Bala não para carro’. Atirar na fuselagem não ia parar o carro, que naquela situação, era uma arma, o Adriano ali era o operador de uma arma letal”, declarou.

A promotora perguntou se Moon acredita que houve um excesso de sua parte por conter Adriano com 7 tiros:“O senhor entende que todos esses disparos eram necessários para conter o motorista ou que foi movido pela emoção?”

Quando ele respondeu: "Não entendo que houve excesso porque a ameaça não cessou. Se ele já tinha sido alvejado, era necessário continuar atirando? Numa situação de fração de segundo eu não tinha condição de contar tiro”, afirmou Moon.

 

Acusação

 

Em seguida, a promotora do Ministério Público, Livia Carla Bariani, questionou Moon sobre o fato de ter se identificado apenas como “policial” conforme as testemunhas relataram, quando deveria ter dito que era Policial Rodoviário Federal, também por estar sem farda. Ele então explicou procedimentos do caso.

“A gente sempre aborda primeiro com a identificação verbal de polícia. O momento de mostrar fisicamente essa identificação é quando o policial se sentir seguro, e eu não tinha segurança ali”.

A promotora questionou ainda sobre a dinâmica dos fatos e a posição de Moon apresentando fotos da reconstituição do crime e laudo da perícia. “O senhor disse que caiu em cima do capô do carro, mas as fotos não mostram isso, a distância que o senhor está não possibilitaria isso”.

Moon disse que as fotos foram feitas por diversos ângulos e não relatam com precisão a posição em que estava.

 

Advogado de acusação questiona sobre pedido de desculpas

 

O advogado da família de Adriano, Irajá Messias, perguntou ao réu se Adriano teria lhe pedido desculpas. Mais cedo, Aguinaldo, testemunha do caso, afirmou que ele teria pedido 3 vezes. Moon negou.

O advogado, acompanhando os questionamentos da promotora, perguntou sobre o momento dos disparos, se o réu teria atirando enquanto se esquivava do carro. “Foi simultâneo o disparo e o pulo. As coisas são muito rápidas não tem como elencar a sequência”, disse Moon.

O júri foi suspenso por 15 minutos e após o intervalo, foi a vez da acusação dirigir-se aos jurados.

 

Versões do jovem e o outro passageiro da caminhonete

 

No início do julgamento, o primeiro a falar foi Vinicius Ortiz, que também estava na caminhonete da vítima, na época adolescente. Ele disse que foi alvejado nas pernas e desmaiou quando o carro bateu. Enquanto isso, o réu estaria conversando com os policiais. Antes, o menino ainda comentou que eles em um “botequinho”, antes de ir pra boate, ocasião em que "tomaram cerveja" e, na boate, "vodca com energético". Porém, questionado sobre Adriano, ele disse: “Eu não sei se ele estava alcoolizado, mas ele tinha bebido”.

Nesta quinta-feira, no entanto, o rapaz desmentiu que o Adriano estava bêbado. O advogado de defesa, Renê Siufi, perguntou: “No depoimento o senhor disse que ele [Adriano] estava alcoolizado, o senhor desmente isso?”. E ele responde: “Desminto".

Diante a todas as declarações, Moon permanece em silêncio. O próximo a falar foi o padastro de Vinicius, Agnaldo Spinosa da Silva, que também estava no interior da caminhonete. “Ele desceu e começou a xingar a gente, chamou de vagabundo, de bêbado”, alegou. Na sequência, a testemunha contou que o agente pegou o telefone e informou que acionaria a polícia, quando "Adriano pediu desculpas 3 vezes”.

“Pedimos a identificação e ele falou que não ia mostrar naquele momento nada pra gente, eu fui pro lado da caminhonete, ele puxou a arma e apontou para mim, eu levantei as mãos e depois o Adriano me chamou e eu voltei para a caminhonete”, emendou.

Agnaldo ainda confessa que todos, ele, Adriano e Vinicius, ingeriram bebida alcoólica. “Ingerimos bebida alcoólica sim, eu era responsável por ele [Vinicius, que era menor]”. Na sequência, ele admitiu que o réu chamou a polícia. Quando perguntado pela defesa se está ciente que Adriano estava cometendo um crime por dirigir embriagado, ele respondeu:

“Todo mundo comete um crime. A gente tinha bebido”, mas, não afirma que estivesse embriagado, “eu não fiquei perto dele na boate”.

 

Primeiro júri

 

Moon já esteve no Tribunal esse ano, no dia 11 de abril após 4 horas de depoimentos de testemunhas o primeiro julgamento do policial foi adiado. Um dos jurados passou mal com quadro de pressão alta e crise de ansiedade. A substituição não seria possível porque todos os outros seis já haviam sido instruídos.

Moon responde por 3 crimes: o homicídio doloso de Adriano e duas tentativas de homicídio, contra Agnaldo Spinosa da Silva e seu enteado, Vinicius Cauã Ortiz. Eles estavam junto com Adriano na caminhonete na ocasião do crime.

 

 

 

Entrevista exclusiva ao G1

 

Em entrevista exclusiva ao G1, Ricardo Su Moon falou pela primeira vez sobre o caso, em outubro do ano passado. O agente da PRF, de 49 anos, declarou que atirou porque Adriano teria avançado com a caminhonete em sua direção: "Ele tentou me matar, jogou uma caminhonete de mais de duas toneladas em cima de mim, aquilo é uma arma. Não foi acidente, eu tive que agir em defesa da minha vida, reagi como qualquer ser humano".

"Tudo que eu fiz, a abordagem, tudo, foi de acordo com a lei. Eu estava tentando impedir um homem embriagado de causar uma acidente e tirar a vida de outra pessoa."

Para o promotor do Ministério Público, José Arturo Bobadilla Garcia, que encaminhou o relatório para a Justiça, a tese de legítima defesa não se aplica ao caso. Para o MP, trata-se de homicídio qualificado com recurso que dificultou a defesa da vítima, e duas tentativas do mesmo crime.

 

Entenda o caso

 

A confusão aconteceu na avenida Ernesto Geisel, em frente ao Horto Florestal, no começo da manhã do dia 31 de dezembro de 2016. A caminhonete onde estavam as vítimas bateu em um poste após ser atingida por tiros. Um policial rodoviário federal é suspeito do crime, segundo o delegado da Polícia Civil Enilton Zalla Pires.

"Podemos adiantar, por enquanto, que foi um conflito de trânsito e que uma das pessoas é um policial que foi abordar pessoas que estavam em outro carro. Houve disparos, no total de 7, e uma pessoa morreu", afirmou na ocasião o delegado.

O suspeito estava sozinho no carro e três pessoas ocupavam a caminhonete, que bateu no poste. A estrutura de concreto caiu sobre o carro depois da colisão. Equipes do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram acionados. A pista foi isolada para os trabalhos da perícia da Polícia Civil.