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Geral

Cozinhar é um ato de amor

Cozinhar é um ato de amor | 10/06/2024 16h 43min

Foto: Freepick

Cozinhar é um ato de amor

Desde os primórdios da humanidade há a preocupação com aquilo que comemos e como comemos, e porque não,também, com quem comemos. A preocupação com o alimento e sua preparação vem de longa data e construímos ao redor deste propósito vários signos e símbolos, dando significado a conquista dos alimentos, o modo como os conservamos, preparamos e servimos.

Ao preparar este alimento o transformamos em comida, e ao longo da história construímos, descontruímos e reconstruímos receitas, passamos de geração a geração comidas de família, que agregam gostos e preferências e também demarcações geográficas, parentais e sociais.

Na fronteira entre o cru e o assado encontra-se a evolução da sociedade. Como nos alimentamos sempre foi tão importante ao ponto de desfrutarmos de banquetes por gozo ou por conveniências que nasceram na convivência social. Quando nos alimentamos juntos daqueles que nutrimos algum afeto, percebe-se nos comensais uma satisfação que vai além do ato biológico de apenas comer. Há nestes encontros uma troca imensurável de memórias, demonstrações verbais e
não verbais de carinho.

Nos dias atuais este ritual que é cozinhar, têm-se distanciado da realidade de muitos de nós e estamos perdendo oportunidades ímpares com as pessoas de nosso convívio de demonstrações afetivas produzidas ao redor da mesa.

Podemos culpar as agendas sempre lotadas, a montanha russa dos compromissos, o trânsito, o estresse, enfim, culpados não faltam. Mas, a verdade é que estamos sendo tomados pelo trabalho e a oferta de comidas industrializadas pré-prontas somadas com o crescimento do ifood e do delivery, e a constituição de famílias diminutas, entramos em uma zona de conforto e esquecemos desta outra parte da vida. Sendo assim, percebemos que “o cozinhar” está sendo uma ação cada vez mais distante da realidade cotidiana de muitos. É mais fácil comprar, comer fora, tudo para ter mais tempo para a vida prática e conhecida como vida moderna. E assim, o relógio vai tomando conta e impera como um grande dominador.

Portanto, quando alguém consegue espaço na lufa-lufa da agenda e arruma um tempo para cozinhar para familiares,amigos, namorado ou namorada, podemos dizer que é um ato de amor. Preparar uma receita de família e mostrar as suas habilidades e competências gastronômicas faz aquele momento mais que especial e valorozo. Onde o simples e trivial vira
um banquete.

Estamos perdendo o hábito de nossos antepassados, não cozinhamos mais, ou pelo menosestamos cozinhando cada vez menos. Os cadernos de receitas já não ocupam espaço na cozinha, fazem parte do passado. Em contrapartida, temos uma gama de vídeos e canais de culinária para fazer diversos tipos de receitas rápidas de pouco impacto financeiro e, mesmo assim, ainda cozinhamos menos.

No entanto, percebe-se um movimento de resgate à cozinha da vovó, da mãe, da tia, e junto com isto, uma percepção mais apurada da riqueza envolvida no ato de cozinhar para alguém. Seja daquele que cozinha para com seus convidados e vice-versa. E a recíproca dá sinais de gracejos, quando ao final do encontro nasce através do convite de um comensal, outra
oportunidade de se reunirem ao redor da mesa.

Cozinhar é reinventar, é arriscar-se, é colocar à sua medida, o seu jeitinho, o seu tempero. Nenhuma receita sai igual, nem mesmo se o cozinheiro for o mesmo. Cada um à sua maneira se expressa na cozinha. Quando salga diz-se que está apaixonado, quando falta sal, logo há reclamações. Porém, o que importa são os benefícios que a boa comida nos traz, ela nos une, nos aproxima, nos traz diálogo e renova as amizades, afaga o estômago e a alma. Por mais
comida boa e de qualidade e por mais momentos de partilha ao redor da mesa farta e saborosa.

 

Maria Cristina R. Fernandes
Mestre em História e Cultura da Alimentação

Fonte:   Maria Cristina R. Fernandes